19 de nov. de 2008

Hitchcock/ Truffaut

Cineasta bem-sucedido, com vários filmes de sucesso pelo mundo todo, que lhe permitiram ter o poder de corte e liberdade criativa no esquema industrial de Hollywood, Hitchcock, porém, não passava de um diretor sem substância para os críticos americanos, que tomavam a liberdade de chamar o diretor inglês de Hitch. Enquanto isso, os jovens esquerdistas franceses, com intenção de revolucionar as artes e a sociedade nos anos 60, ao que de fato colaboram, e que escreviam a “Cahiers Du Cinéma”, uma revista especializada em cinema, para a qual o futuro cineasta François Truffaut escrevia, os chamavam de Monsieur Hitchcock e tinham o mestre do suspense como um gênio narrativo e imagético e não se conformavam com o desdém da crítica americana a Hitchcock. Disposto a colocar o diretor no posto que lhe era digno, Truffaut decidiu realizar uma série de entrevistas, a serem convertidas em livro, com o próprio Hitchcock, falando da evolução de sua carreira, estilo, seu processo de criação (do roteiro à finalização) e fatos curiosos que aconteceram durante as filmagens. Da junção delas, nasceu o livro “Hitchcock/ Truffaut” (ed. Companhia das Letras; R$ 65,00), que, conforme esperava Truffaut, deu a Hitchcock a dimensão merecida e mais, deu-lhe uma dimensão humana, de modo a que o leitor possa compreender não apenas o processo fílmico de Hitchcock, como o processo de vida que o tornou um homem controlador e neurótico e nos revela o porquê de sua obsessão por temas como a transferência de culpa; a morte por enforcamento e a degradação por amor. Deve-se prestar atenção também no capítulo final do livro, onde Truffaut discorre sobre a infância, personalidade e os últimos dias de Hitchcock e também acerca da amizade que nasceu entre os dois por conta do livro. Ao contrário do que diziam os americanos, Truffaut provou a genialidade do diretor e nos proporcionou o melhor e mais delicioso livro sobre cinema da história.

Dan Thomaz

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